Ficamos mais experientes com o tempo. Vivi o suficiente para conhecer não só o significado objetivo dessa frase mas também o subjetivo. Hoje vejo a vida de um jeito diferente, mais prudente: sou obrigado a ver os perigos com os quais não me preocupava antes porque meus pais me protegiam; e só percebi que eram de verdade e não um dos bichos-papões que eles me inventavam porque os conheci pessoalmente.
Mesmo
mais experiente agora, não digo que as coisas da adoslescência eram
todas bobas. Meu altruísmo hoje é muito mais protetor e prudente - como o
dos meus pais antes de mim - mas isso não quer dizer que o meu
altruísmo utópico de outrora seja estúpido só porque era
adolescente, pelo contrário, inépcia é o conformismo preguiçoso de
alguns adultos; só espero poder ser como o Chesterton: "cresci e
descobri que aqueles velhos filantrópicos estavam dizendo mentiras.
(...) Ora, eu não perdi meus ideais nem um pouco; minha fé nas verdades
fundamentais é a mesma que sempre foi."*
Também
digo essas coisas para elogiar não um relativismo mas uma sensatez em
relação ao que passou. Acho que não devemos pensar no passado - tanto o
pessoal como o da humanidade - como se ele fosse um valor, positivo ou
negativo, devemos vê-lo como uma realidade complexa de onde podemos
tirar coisas boas e ruins. O mesmo vale para a ilusão da mudança total
da sociedade, acho uma má ideia porque acabamos substituindo vários
acertos passados por equivalentes inferiores – o que, naturalmente, não
significa que não hajam também erros passados para consertarmos hoje.
Por isso não sou saudosista, conservador ou futurista. Sou a favor de ouvirmos tudo, e ficarmos com o que é bom.
* G. K. Chesterton. Ortodoxia, editora Mundo Cristão, p.77